terça-feira, outubro 31, 2006

Morte


Era uma vez.

Assim começam todas as histórias que prendem essa atenção tão pura que é a atenção de uma criança. Esse inicio mágico desejado que se reflecte no brilho dos seus olhos. Assim desta forma, começa esta história nesse ponto que tudo contem em si e que no entanto, simultaneamente, é nada.

O infinito é tão estático sem cor, sem som, um vazio tremendo. Uma existência que não existe e cobre todo o espaço que não o é.

Uma vontade maior que todas as vontades, uma vontade maior que o infinito, faz mover o espaço. Este, por sua vez, entre o desejo que sente pela expansão e o desejo que sente em regressar a si mesmo, cria um anel em torno da sua origem. Em torno desse ponto gira, e no seu interior manifesta todas as memórias que possui. O manto tão profundo, alto e distante que o envolve, a negra essência disforme que o embala é o ventre, que através da oposição, pelo poder das suas trevas, permite o raiar da luz e a origem da vida. As trevas é o consorte da luz e na memória da sua expansão, este ser infinito de movimento, gera o dia e na memória do seu inicio, este ser infinito gera a noite. Assim surge a ilha no mar eterno.

Todo o corpo tem por base o movimento, um circulo eterno sobre si mesmo, uma noite findada pela aurora pura, magica de um sol expresso no olhar e sorriso de uma criança. As ultimas horas findadas nas memórias intemporais do por do sol, cuja tranquilidade do seu cerrar de pálpebras incute no olhar que fica a certeza de algo para além do horizonte aguarda. Embora o corpo se arraste pela noite, no inferno das sombras e incertezas, ao longe sente a alvorada do retorno. Até que essas horas cheguem, divaga a alma ao sabor do mesmo vento que arrasta as folhas, uma viagem ao interior de si mesma, através das frias grutas invernais.

Assim, partilhando da memória que possui, morre este ano. A sua noite chegou. Fechado sob si mesmo, reflecte e absorve todas as experiências que viveu.

Que a morte gere a vida mais e mais purificada.

Mem Gimel

sexta-feira, outubro 27, 2006

Corpus Hermeticum - VII

“ Corai, ó humanos, ébrios que sois, tendo bebido até à última gota do vinho sem mistura, da doutrina da Ignorância, que não mais podeis conter, mas que estais prestes a vomitar.

Deixai a embriaguez, parai.

Olhai para o alto com os olhos do coração. E se não o podeis todos, pelo menos olhem os que podem. Pois o mal da ignorância inunda toda a terra, corrompe a alma aprisionada no corpo, sem permitir-lhe lançar a âncora no porto da salvação. Não vos deixeis arrastar pela violência da onda, mas, aproveitando-vos da contra corrente, vós que podeis aportar no porto da salvação, lançai a ancora e buscai um guia que vos mostre a rota até ás portas do conhecimento, onde a luz flamejante brilha, livre de toda a obscuridade, onde ninguém está embriagado, mas todos permanecem sóbrios, elevando o olhar do coração para aquele que quer ser visto. Pois não se deixa ouvir nem descrever e não é visível para os olhos corporais, mas somente ao intelecto e ao coração.

Mas, agora, é necessário que laceres pouco a pouco a túnica que te reveste, o tecido da corrupção, o suporte da malícia, a cadeia da corrupção, a prisão tenebrosa, a morte vivente, o cadáver sensível, a tumba que levas para todos o lado contigo, o assaltante que habita na tua casa, o companheiro que pelas coisas que ama odeia-te e pelas coisas que odeia, tem ciúmes de ti.

Tal é o inimigo que revestiste como uma túnica, que te estrangula e se atira sobre ti. Quando elevares os olhos e contemplares a beleza da verdade e o bem que nela reside, irás odiar a malícia do inimigo, tendo compreendido todas as ciladas que preparou contra ti, tornando insensíveis os órgãos dos sentidos que não aparecem e não são tidos por tal, tendo-os obstruído pela massa da matéria e preenchendo-os de uma voluptuosidade odiosa, a fim de que não possuas ouvidos par as coisas que devíeis ouvir, nem visão para as coisas que precisais ver.”

quinta-feira, outubro 19, 2006

Ciência Universal


Quantas vezes alguém já se questionou quem é?
Quantas vezes já tentaram encontrar essa resposta?

A maior parte das pessoas diz que, É. Este Ser, para as mesmas começa pela individualização que o seu Nome lhes confere. Para provar isto, é chegar perto de alguém e perguntar a essa pessoa quem ela é. O que esta responde? Eu Sou, O José, a Ana, O Manuel, A Sofia.... Em seguida, conseguem individualizar e caracterizar um pouco mais de si mesmos através dos seus gostos, preconceitos, experiências, etc, agindo de acordo com os mesmos. Conseguem formar grupos de indivíduos semelhantes e dizer: eu sou Poeta; Eu sou Musico; eu sou Cientista; etc, etc;

No fundo o que é Ser?
Para a maioria das pessoas, o que escrevi anteriormente é o Ser, mais erradas não poderiam estar. Ultrapassando os conceitos da Psicologia, ultrapassando os conceitos da Filosofia, chegamos ao verdadeiro portal da verdade, à ciência universal ou cósmica, transmitida a todos os que se propõem morrer e renascer diariamente.

Cerca de 80 % e notem bem, 80 % da actividade mental é processada pelo sub consciente e é aqui que a personalidade está enraizada. E o sub consciente é o mundo dos símbolos; imagens, sons, cheiros, estes “constroem” aquilo que a maior parte das pessoas diz que é, pois bem, o que se constrói, também se destrói e assim sendo onde se encontra o ponto da unidade?

Uma chave é dada pela analogia da seguinte reflexão, pensem nas duas primeiras pessoas dum verbo: Eu, Tu. A junção das duas origina a primeira pessoa do plural, se for esse Eu a dizer seria Nós. Pois bem, em vez de dizerem Nós, digam EU, e Façam desse EU a unidade que contem tudo, que na sua manifestação se separa nas potencias essenciais à mesma manifestação Eu e Tu.

O Eu que a maior parte do Homem diz ser é somente o reflexo em algo que é o Tu e é isso que o sub consciente faz; comparações. O Verdadeiro SER situa-se entre o Ser e o Não Ser.

A compreensão desta ciência torna a ciência do mundo em que vivemos, una com a ciência do mundo interior, ou mística.

Neste ponto falharam as grandes religiões, todas elas condenadas a caírem, embora tenham ensinado algo de novo ao Homem, não entregaram o Homem ao HOMEM mas sim colocaram-se entre Ele e a verdade que existe no seu interior.

Polarizaram e ajudaram a polarizar o mundo e quando se toma parte de uma das partes, assim sim, cometem-se as maiores atrocidades. Imaginem o que é um projector se não tiver uma superfície onde projectar a informação que a sua luz transporta? Imaginem a utilidade da luz sem a existência da escuridão. O “mal” no verdadeiro sentido da palavra e a tomada de qualquer das partes.

Esta ciência universal, no mundo ocidental, ao contrário do mundo oriental, foi obrigada a caminhar pelas sombras, devido aos delírios, interesses, sede de poder e domínio, daqueles cuja função era ensinar o Homem e não prender o Homem e claramente acuso e aponto o dedo a uma das partes que se julga o todo, Catolicismo.

Nos dias de hoje vemos uma crescente recorrência ás componentes físicas do misticismo Oriental e até mesmo aceites e reconhecidas, sejam elas o Yoga, Reiki, acupunctura, etc e um interesse por Budismo, Taoismo, etc, embora trazendo frutos aos ocidentais que as pratiquem, nunca revelarão o seu esplendor, uma vez que como sistemas simbólicos que são, são talhados para mentes orientais e toda uma cultura de séculos que um ocidental não possui.

Se conseguirem transcender aquilo que tomam como verdade, irão encontrar tudo aquilo que procuram.

Tudo tem explicação e a primeira tarefa é morrer interiormente e acreditar que o esforço será sempre recompensado.

Mem Gimel

sábado, outubro 14, 2006

Alma a Cumprir


“ A terra é uma ilha no sistema solar, este uma ilha na nossa galáxia e a nossa galáxia uma ilha no cosmos ilimitado banhado pelo mar ilusório do tempo.
O Ser é o único que sendo meta inicial, não é uma ilha nem mar e desconhece o tempo. O Homem ilude-se quando, assumindo uma exterioridade, adora a divindade. Se o faz deixa que as águas do olvido o separem do Ser, confinando-se à ilha que, que apesar da epifania, nos torna presa de uma mortal nostalgia. “Transforma-se o amador na coisa amada” dizia Camões, por isso apenas a força do amor pode dissipar a ilha e as brumas. Seremos apenas assustadas aves de asas curtas, açoitadas por desesperos e ódios, ignorâncias e medos, se nos falta a consciência do oceano de que somos parte e nos embala no jogo da existenciação.”

Adalberto Alves
PORTUGAL
ECOS DE UM PASSADO ÁRABE

terça-feira, outubro 10, 2006

Julgar


“Encontram-se, muitas vezes, nas paredes das prisões, legendas interessantes, formulas, versos e inscrições que nos esclarecem o espírito e nos orientam os sentimentos de bondade e clemência. Conta-se que, certa vez, o Rei Mazim, senhor da rica província de Korassã, foi informado que um presidiário hindu escrevera palavras mágicas na parede da sua cela. O rei Mazim chamou um escriba diligente e hábil e determinou-lhe que copiasse todas as letras, figuras, versos ou números. Muitas semanas gastou o escriba para cumprir, na integra, a ordem extravagante do Rei.

(..)

Diante do pedido do monarca, disse o sábio:
- Eis os versoso escritos por um dos condenados:

A felicidade é difícil porque somos muito difíceis em matéria de felicidade.
Não fales da tua felicidade a alguém menos feliz que tu.
Quando não se tem o que se ama é preciso amar o que se tem.


Eis um problema escrito na parede da cela de um condenado.

Colocar 10 Soldados em cinco filas, tendo cada fila 4 Soldados.

A seguir o sábio leu a seguinte lenda:

« Conta-se que o jovem Tzu-Chang se dirigiu um dia ao grande Confúcio e perguntou-lhe:
- Quantas vezes, ó esclarecido filósofo, deve um juiz reflectir antes de sentenciar?
Respondeu Confúcio:
- Uma vez hoje; dez vezes amanhã.
Assombrou-se Tzu-Chang ao ouvir as palavras do sábio. O conceito era obscuro e enigmático.
- Uma vez será o suficiente – elucidou com paciência o Mestre – quando o juiz, pelo exame da causa, concluir pelo perdão. Dez vezes, porém, deverá o magistrado pensar, sempre que se sentir inclinado a lavrar sentença condenatória.
E concluiu com a sua incomparável sabedoria:
- Erra, por certo, gravemente, aquele que hesita em perdoar; erra, entretanto, muito mais ainda aos olhos de Deus, aquele que condena sem hesitar
.»"


Malb Tahan
O Homem que sabia contar

Ficam as palavras sábias e o problema para quem se sinta tentado em encontar a solução.

Mem Gimel

sexta-feira, outubro 06, 2006

A Formação

“Através de 32 maravilhosos caminhos de sabedoria, de Hostes, Elohim de Israel, Elohim que vive, Rei eterno, El Shadhai, Misericordioso e cheio de Graça, Alto e Elevado, habita a Eternidade, Exaltado e Santificado é o seu nome gravado. Ele criou o seu universo com três sinais: Pela Fronteira, pela Letra e pelo Número”

Sefer Yetzirah







Mem Gimel