Fernando Pessoa
«Nunca para dentro da vida de nenhum outro homem se insinuou tanto o mistério do mundo. Tão familiarmente, por assim dizer. O mistério do mundo encontra não apenas o meu pensamento, mas o meu sentimento.»
Fernando Pessoa
Pouco talvez são aqueles que conhecem o verdadeiro universo de Pessoa. Poucos! Talvez mesmo ninguém, talvez mesmo só Pessoa pudesse escrever aquilo que realmente foi e aquilo que realmente viu e sentiu. De certeza que as visões que teve, só um pouco delas as passou ao mundo e para que o mundo as pudesse compreender somente um pouco delas escreveu e desse pouco, na metáfora está a chave de uma outra chave, a Vida de um dos maiores Esoterista e Ocultista Português, ele mesmo.
É impossível compreender o total significado da escrita de Pessoa estando-se alheio ao Universo Alquímico, Templário, Rosa Cruz, Maçónico, Astrológico, Mágico, no qual Pessoa se movimentava. Não sendo a minha intenção fazer um estudo sobre esse Pessoa oculto, deixo apontamento anterior para quem aprecie a sua obra e queira aprofundar ou “Reentender” aquilo que dele leu e principalmente Chegar à verdadeira “Mensagem” que quis Transmitir.
Um dos seus trabalhos menos conhecidos neste campo é uma tradução que fez de uma invocação de Crowley.
HINO a PAN
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
O Mestre THERION
(ALEISTER CROWLEY)
TRADUÇÃO DE FERNANDO PESSOA
Mem Gimel
1 Comments:
Existem alguns trabalhos interessantes sobre este lado oculto de Fernando Pessoa. Este seu apontamento aguçou-me ainda mais a curiosidade...
um abraço
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