terça-feira, novembro 28, 2006

Simbolos - Pentagrama


Uma definição muito sucinta de símbolo pode ser: Um elemento que sintetiza uma ideia e que possui o poder de transmitir essa mesma ideia quando invocado à mente.

Embora a definição anterior seja incompleta, serve para o propósito deste post, falar acerca de símbolos e de um em particular.

Uma divisão muito rápida do universo dos símbolos, pode ser feita em dois grandes grupos. De um lado temos os símbolos “particulares”, por exemplo um símbolo representavivo de uma associação, grupo, etc. e os símbolos “universais” como por exemplo figuras geométricas.

Quando queremos interpretar e traduzir para o mundo mundano a ideia associada a um símbolo, a maior parte das vezes acabamos por: ou não ter as palavras necessárias que descrevem certo estado, ou a capacidade mental necessária para avançar no universo simbólico, revelando-se este como uma verdadeira selva onde um explorador descuidado se perde muito facilmente.

No que diz respeito aos símbolos universais, uma vez que estes surgem em várias culturas, associados geralmente aos mesmos princípios, podemos utilizar essa mesma cultura como suporte para a interpretação do símbolo de maneira a poder expor o seu significado, ou parte deste a um público.

Para um ocidental, embora para alguns possa parecer estranho, as ferramentas fornecidas pela cultura Hebraica são as ideais quando se pretende atingir determinadas ideias, associadas a determinados símbolos, devido a forte influência que esta cultura deixou no inconsciente colectivo do Europeu.

Deixando também bem presente que, por se utilizar o universo mitológico de determinada cultura não significa que essa cultura seja dona e senhora do símbolo, apenas que como cada ideia trás consigo mais ideias é sempre mais fácil abordar o pretendido utilizando uma vertente cultural conhecida do que uma que não nos diga absolutamente nada, como, por exemplo, a leitura de qualquer mito polinésio sem conhecimento prévio dos seres divinos intervenientes, iria deixar qualquer um quando terminasse a leitura da mesma forma com que a iniciou.

É também importante que o leitor se dissocie de ideias pré-concebidas que tenha do símbolo e parta para a aventura da descoberta do símbolo como se nada soubesse, de forma a atingir a essência na sua forma mais pura, mesmo que no final verifique aquilo que já conhecia dele.

Alerto também para o facto que o uso indevido de um símbolo pode levar à associação e atribuição de ideias e princípios erróneos ao mesmo. Um bom exemplo disto é a Cruz Suástica, que devido ao seu uso por parte de um partido, teve o seu significado completamente desvirtuado do seu sentido real, passando a ser vista pela maior parte das pessoas como algo associado a uma guerra, ao genocídio e a todos os aspectos negativos de uma ideologia que tomou como figura representativa esta figura geométrica.

Com toda esta introdução, abordemos agora o tema principal do post, o Pentagrama.

O Pentagrama, um dos símbolos mais amados e ao mesmo tempo mais odiados deste mundo e sobretudo pelo não conhecimento do mesmo e pela porta que o mesmo pode abrir ao nível do conhecimento.

Associado a práticas mágicas, associado a práticas satânicas, amuleto de sorte, indiferente, etc. uma coisa é certa, é conhecido para a maior parte das pessoas mesmo que careça ou não de significado para elas.

Para entender o Pentagrama é essencial compreender o significado ou a ideia que a cruz representa.
Longe de ser um símbolo de origem cristã, a Cruz, provavelmente foi um dos primeiros símbolos que a humanidade desenhou e pode ser encontrado em várias culturas espalhadas pelo mundo, independentemente da intrusão missionária no seio das mesmas.

Uma das primeiras ideias que a cruz trás à mente é a existência de um ponto central do qual irradiam quatro rectas e se colocarmos na mente uma cruz simétrica, temos quatro rectas iguais. Então, sem qualquer dificuldade de associação é fácil compreender que à cruz está associado o número 4.

A partir da agora farei uso de parte da Mística Hebraica. Não aquela que seria de esperar por alguns, mas aquela que permite avançar em muitos mistérios velados em textos desse povo.
A cada letra do alfabeto hebraico corresponde um Número e Uma palavra que a mesma letra representa. O alfabeto hebraico é constituído por 22 letras e na escrita das palavras, não é utilizada qualquer vogal, pelo menos nos textos antigos.

A partir daqui apelo à capacidade imaginativa de cada um e ao limite da mesma pelo uso da analogia.

Quatro são os elementos, quatro são os estados da matéria e quatro são os estados do cosmos, quatro são as letras que formam o maior nome de Deus


Traduzindo YHVH

Como disse anteriormente, a escrita hebraica, não continha vogais daí que a transmissão dos mistérios tinha de ser efectuada oralmente, pois o som completava o conhecimento da palavra escrita. Tão forte é o poder de pronunciar este nome, que ao longo dos tempos a sua pronúncia foi sendo ocultada. Quando surgia nos textos os sacerdotes utilizavam outros nomes para substituir o Maior nome de Deus, tal facto ficou escrito na Passagem “ Não pronunciarás o nome do teu Deus em vão”
A tradução mais conhecida por todos é

YeHoVaH ou Jeová, DEUS

A cada Recta da Cruz corresponde uma letra do nome sagrado, cada recta da cruz forma um estado cósmico e a sua totalidade representada nesse símbolo representa Deus tornado manifesto.

A letra


( traduzindo, shin) Significa espírito, e sendo ela a mãe do fogo, é ela que vai purificar o impuro.

Assim, no processo da génese, o cinco é consequência do quatro, assim o é numa escala evolutiva, assim o é numa escala numérica. O mundo, a matéria, Deus ao se fazer manifesto, pôs em movimento a necessidade de compreensão de si mesmo. Atingir a iluminação interior traduz essa procura. Desta forma o cinco resulta da vitória da unidade interior sobre o quatro, resulta da purificação interior pelo poder luz sobre a matéria.

Assim, desta conquista resulta a palavra



Traduzindo, YHShVH,

formada apartir de YHVH, sobre a qual o Sh (Shin) desceu e ocupou o Ponto Central da mesma, e de onde, no seu trono, governa e ordena os elementos. Esta palavra é conhecida na forma YeHeShUaH que significa DEUS-HOMEM e é o nome que foi atribuído a Jesus. Mas não apenas a Jesus, mas a outros grandes homens que incorporaram o arquétipo do número cinco, cujo símbolo é o Pentagrama: Rama, Krishna, Hermes, Orfeu, Jesus, Buda. Todos eles foram o Homem Perfeito, o mesmo que Da Vinci representou com o seu Vitruvio.



Mem Gimel

terça-feira, novembro 21, 2006

Fernando Pessoa


«Nunca para dentro da vida de nenhum outro homem se insinuou tanto o mistério do mundo. Tão familiarmente, por assim dizer. O mistério do mundo encontra não apenas o meu pensamento, mas o meu sentimento.»

Fernando Pessoa

Pouco talvez são aqueles que conhecem o verdadeiro universo de Pessoa. Poucos! Talvez mesmo ninguém, talvez mesmo só Pessoa pudesse escrever aquilo que realmente foi e aquilo que realmente viu e sentiu. De certeza que as visões que teve, só um pouco delas as passou ao mundo e para que o mundo as pudesse compreender somente um pouco delas escreveu e desse pouco, na metáfora está a chave de uma outra chave, a Vida de um dos maiores Esoterista e Ocultista Português, ele mesmo.

É impossível compreender o total significado da escrita de Pessoa estando-se alheio ao Universo Alquímico, Templário, Rosa Cruz, Maçónico, Astrológico, Mágico, no qual Pessoa se movimentava. Não sendo a minha intenção fazer um estudo sobre esse Pessoa oculto, deixo apontamento anterior para quem aprecie a sua obra e queira aprofundar ou “Reentender” aquilo que dele leu e principalmente Chegar à verdadeira “Mensagem” que quis Transmitir.

Um dos seus trabalhos menos conhecidos neste campo é uma tradução que fez de uma invocação de Crowley.

HINO a PAN

Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

O Mestre THERION
(ALEISTER CROWLEY)

TRADUÇÃO DE FERNANDO PESSOA

Mem Gimel

terça-feira, novembro 14, 2006

Um pouco mais do Oculto


“ A verdade secreta da bondade natural reside no reconhecimento dos direitos que os pares de opostos possuem. Não existe tal coisa como antinomia entre Bem e Mal, mas apenas equilíbrio entre dois extremos, cada um dos quais é Mal quando tomado em excesso, ambos dão origem ao Mal quando contribuem insuficientemente para o equilíbrio.”

Dion Fortune

segunda-feira, novembro 13, 2006

Uma verdade

“ O Mal, na verdade, é oposto ao Mal, mas ambos a Um Bem. O Bem, contudo, nunca é oposto ao Bem, mas a Dois Males.”

W. Wynn Westcott

segunda-feira, novembro 06, 2006

Andaluz


O quão pequenos somos quando tentamos recordar, agradecer e saudar alguém maior que nós mesmos.
Somos palavras quando esse alguém foi Alma. Somos corpo, quando esse alguém foi espírito, somos a rudeza de uma frase quando esse alguém foi Poema.

Por receio de quem espia
Com muita inveja a roer
Não veio naquele dia,
P’ra assim traída não ser
P’la luz que no rosto explende,
P’las jóias a tilintar,
E pelo perfume do Âmbar
A que o corpo rescende:
É que ao rosto, com o manto,
Tapá-lo inda poderia,
E as jóias, entretanto,
Facilmente as tiraria
Mas a fragrância do encanto
P’ra ocultá-la, que faria?


Um dos mais célebres poemas escrito por quem a história do Portugal esqueceu e que consta nas «Mil e uma noites».

O seu Autor

Abu-l-Qasim Muhammad Ibn Abi Amr ‘Abbad Ibn Muhammad Ibn Isma’il al-Lahimi az-Zafir Bhaul al-Lah al-Mu’ayyad bi-l-ah al-Mu’tamid ‘ala al-Lah

Rei, Poeta, nascido em Beja, feito jovem em Silves Rei do Andaluz com trono em Sevilha,
como o poderão Conhecer!?

AL-MU’TAMID

Este é o homem cuja história da vida que teve, é uma das mais belas, talvez por isso um dos seus poemas constar nas «Mil e uma noites» e também uma das mais trágicas, tristes e Dolorosas.

Não sou a autoridade para falar acerca dele, mas como Português que sou, como cidadão com afinidades com a cidade onde nasceu, como homem com orgulho do passado histórico desta nação é com orgulho e com simplicidade que lhe presto esta minha humilde homenagem, recordando-o ou apresentando-o para todos aqueles que se esqueceram que no sangue de Portugal correm os genes de muitas culturas e uma das mais importantes, a Muçulmana.

Ler os poemas de AL-MU’TAMID e conhecer a história da sua vida é sentir as alegrias que viveu e as lágrimas que chorou, quando no seu cativeiro aguardava a chegada da morte, para que o seu espírito pudesse voar, cavalgar pelas terras que foi o sonho, o seu sonho, da terra chamada do Andaluz, que albergava o sul de Espanha, Algarve e Alentejo.

Nasceu em Beja no ano de 1040 no mês de Dezembro. Aos treze anos conquista Silves e torna-se o senhor da cidade e aos 29 torna-se Rei do Andaluz devido à morte do seu pai. Da sua estância em Silves conhece Ibn Ammar homem desde sempre com carácter magnânimo, que se torna o seu amigo mais intimido, e que o vai acompanhar. Muitas vezes devido à sua ambição ultraja al-Mu-tamid. Até que um dia, este num ataque de Raiva, assassina na prisão o homem que mais amava e assim, al-Mu-tamid vê morrer pelas suas próprias mãos o seu melhor amigo e o seu melhor negociador, Ibn Ammar. A sua facilidade de dialogar, mantinha a ténue paz com Afonso VI de Castela.

Até que chegou o dia em que as tréguas foram quebradas e al-Mu-tamid teve de pedir ajuda aos Almorávidas, senhores do Magreb. Estes acabam por trair al-Mu-tamid e fazem um cerco a Sevilha em 1091. Lançando desesperadamente um pedido de ajuda ao seu antigo Inimigo, Afonso VI, que o aceita e disponibiliza um exercito que se mostrou insuficiente, al-Mu-tamid é feito prisioneiro, Vendo alguns dos seus filhos serem mortos na batalha, uma filha a ser vendida como escrava e outros filhos a acompanharem-no para a sua ultima morada a prisão de Agmat.

Cita Adalberto Alves no seu livro AL-MU’TAMID, a descrição de um poeta da corte, a quando da partida da família real para o cativeiro

Tudo poderei esquecer salvo aquela manhã sobre o rio.
Eles amontoavam-se nos barcos como corpos na tumba.
A multidão enchia as margens olhando pensativa
Aqueles que eram pérolas vogando sobre a espuma.
Todos os véus caíram, mesmo os das virgens puras.
Os rostos estavam dilacerados comos as próprias vestes.
Na hora do adeus que elevados gritos!
Homens e mulheres se davam a derradeira saudação.
Partiram as naves que os levavam embalados por cantos
Como camelos levados pela cantilena do seu montador.
Ai, quantas lágrimas arrastadas pelas águas
Quantos corações destroçados iam nas galeras
.”


Verso escrito quando chegou ao desterro

Saíram a implorar a chuva
E eu disse-lhes: Ah quem dera,
Pudesse o meu pranto vos servir
Em troca da chuva que buscais!
Responderam: Em verdade
Tuas lágrimas seriam quanto basta
Porém, de que nos serviriam
se com sangue se encontram misturadas


Durante o seu cativeiro continuou a escrever versos que merecem ser lidos e por tempo e espaço aqui não se encontram.

Por fim, escreve o seu epitáfio

O terrível fim o leão contrário
Destino na vingança
Oceano na generosidade
Plenilúnio na sombra,
Eloquência na multidão.
Chegou o decreto do altíssimo
E, com ele, o meu fim.
Antes de olhar este esquife
Mal sabia eu que altas montanhas
Sobre tábuas repousavam
Que isto te baste tumba:

Sê amável com a nobreza
Que aqui te vai confiada.
Que as taciturnas nuvens
Te reguem entre os raios e trovões,
Chorando por seu irmão,
Que agasalhaste da chuva,
Sob esta laje tão larga,
Com lágrimas matinais e vespertinas.
Até as gotas do orvalho te choram
Derramando-se sobre os astros
Que te não deram sorte.
Para sempre a bênção de Alá
Sobre a tua sepultura
Incontáveis vezes
..para sempre
.”

Morre em 14 de Outubro de 1095

Todos os poemas foram retirados da bibliografia de Adalberto Alves, que aconselho vivamente a ser lida. Aqui irão encontrar a restante obra do poéta, sem duvida a não perder.

Mem Gimel

quinta-feira, novembro 02, 2006

Isaac Luria



“ Assim que se observou, limitou-se. No ponto central que nele existe, precisamente no ponto central, ele limitou a Luz. E a luz foi removida para os lados que circundam o ponto central. E ficou um espaço vazio, atmosfera e um vácuo rodeando precisamente o ponto central.

E vista a restrição mencionada anteriormente, ele extraiu da luz sem fim uma linha, directamente da sua luz circular desde cima até baixo. E ela, gradualmente, desceu através da evolução para aquele poço, ou vácuo...E naquele vácuo ele emanou, criou, formou e fez os mundos colectivos”

Isaac Luria
1534 – 1572

Grande e Venerável Mestre.