sexta-feira, julho 22, 2005

Um dia, tive o prazer de almoçar com uma grande individualidade espanhola. Um dia de sol de Outubro. Naquele pequeno restaurante de Madrid, iluminado pela luz de um jardim que entrava pelas suas janelas, escutava atentamente aquele homem.

Por entre sabores gastronómicos e licores falou-se acerca da vida. Esse homem que conquistou um império falava-me das batalhas que travara para ganhar o seu poder. Falava-me acerca da família que esquecera, dos filhos que não viu crescer, do amor que ignorou.

Mas a vida um dia julgou as suas atitudes e colocou-o num bloco operatório com uma paragem cardíaca, mas algo fizera com que ficasse neste mundo.

Segurando aquele licor de café, a olhar para aquele doce líquido disse-me

– O que vale ter o que tenho se num cemitério somos todos iguais.

Não viu partir a sua mãe deste mundo, que se encontrava num hospital, para conseguir fechar um negócio. Não teve tempo para o amor, porque o mundo material era mais importante. Não viu as alegrias e magoas dos seus filhos.

Aquele homem que tudo tinha, decidira então descobrir porque não era feliz e então viu que a única forma de o ser era através do amor. Um dia, esse homem antes frio sentiu o toque quente da sua companheira o toque maravilhoso da sua pele. Descobriu que os seus filhos cresceram e agora sorria para eles. Esse homem dizia-me

- Luta pelos teus sonhos, ama e assim conquistarás a liberdade, assim conquistarás a morte, porque num cemitério somos todos iguais.