sexta-feira, maio 19, 2006

tempos que correm

Hoje decidi roubar um pouco de tempo ao tempo para escrever.

Entre assuntos que podemos escrever e conversar, os mundanos são aqueles que mais facilmente são compreendidos e os quais agregam mais opiniões concordantes. Temos de aprender através da presença no plano físico e essa é a nossa sina.

Desde que nascemos até à data da nossa morte, aprendemos. Entre verdades, ou semi-verdades e mentiras ou semi-mentiras, construímos em torno de nós uma personalidade que nada mais é do que um casaco da nossa individualidade. Assim, neste mundo físico, somos “iniciados” no aspecto físico das leis que o governam.

Tudo se inicia quando crianças. Olhamos para dois objectos e distinguimos a ambos. Entretanto surge alguém que nos diz que são arvores de fruto e também seres vivos. Olhamos novamente para as arvores que se encontram diante de nós e no pouco espaço decorrido já as vemos de uma forma diferente. – A fruta é boa -> a arvore é boa, Uma simples associação. Mais tarde surge alguém que nos ensina a operação adição, o seu significado a nível abstracto, então, de um momento para o outro surge a definição de elementos e conjuntos. Podemos até dizer que compreendemos o que é a unidade.

Assim aprende o Homem a definir o universo, com aquilo que ele sente, com aquilo que é manifesto. Um conhecimento guardado algures na mente, acessível pelo esforço da vontade sempre que necessita de justificar, compreender, interpretar aquilo que se manifesta perante si.

O tempo decorre e a determinada altura ouve falar de Deus e de um instante para o outro, vê o seu mundo interior a ser dominado por evangelhos, cartas e vozes de homens vestidos ora de negro, ora de branco, que ao contrário dos mestres e professores que leccionam o mundo exterior mostrando-o de forma a que o Homem o compreenda e nele se sinta livre, de uma forma subtil, qual cunha que provoca uma falha e uma quebra, penetram no espírito e tornam o mesmo vassalo de uma ideia dita por eles como sendo a única e a verdadeira . Acredita porque tens de acreditar, é lhe dito de uma forma indirecta. Como aquela experiência que fizeram ao macacos. Colocando uma banana no topo de uma escada, sempre que um macaco subia para ir buscar a banana, todos eles eram molhados com um jacto de água. Isto aconteceu por um período de tempo até que os macacos deixaram de subir a escada. Retiraram um dos elementos do primeiro grupo e colocaram um novo. O novo tentou subir, mas os restantes logo o impediram agredindo-o. Passado tempo o novo deixou de subir a escada, nunca levando com o jacto de água, um a um os macacos do primeiro grupo foram retirados até já não restar nenhum e substituídos por novos. Os novos por sua vez nunca levaram com o jacto de água mas impediam sempre os mais recentes de subir a escada. O mesmo é dizer, acredita, mas não contestes porque sempre foi assim.

A consciência de um mundo interior do Homem ocidental, ao contrário da consciência do mundo exterior, como na experiência dos macacos, é tratada da mesma forma por esses ditos mandatários de Deus. E sobre a potência de Rituais como missas, reuniões, eucaristias, etc..a liberdade do espírito de cada um é controlada em vez de ampliada. É oferecido a cada um o alimento de que cada um é filho de um Deus e que esse Deus irá cuidar bem do seu filho. È dito, pratica o Amor e assim a própria pessoa é enjaulada em si mesma sem nunca ser iniciada nos mistérios do próprio Amor, sem nunca ser iniciada nos mistérios da mente, como foi para os mistérios do corpo, sem nunca compreender o que é que contém em si mesma, satisfeita apenas por saber que é filho de Deus, limitando-se a viver e a cumprir o que os reis da igreja lhes ordenam, aceitando quais ovelhas as ordens de um pastor. Coitadas destas pessoas que possuem um bom coração.

Nada pode ser feito de bom sem se saber o que se há de fazer, sem saber até o que é o bem.

Defende então este Homem um Deus, que é um ser supremo sentado num trono, algures num mundo diferente deste mesmo e para este mesmo Homem basta-lhe saber isso, enganando-se a ele mesmo. Questionado acerca de temas mais filosóficos, refugia-se em escrituras, dando respostas que em analogia com o mundo físico são impossíveis, mas nesta impossibilidade encontra ele o poder de Deus.

Morre o Homem sem se dar conta que de alguma forma tudo tem de ser contínuo e mesmo no espaço existente entre um salto quântico alguma substância mesmo que subtil e não entendida no nível de consciência normal, tem de existir. Pois, só assim o conceito de unidade atribuído a um princípio gerador, omnipotente e omnipresente é possível. Apenas isto faz com que Homem esteja para Deus como o corpo está para a mente.

Hoje em dia sente-se que paira uma ideia no ar de que algo está errado, que alguma coisa está não certa na grande igreja ocidental que se ergueu. Mas estas vozes que se erguem hoje e tentam retirar o véu, sempre se levantaram ao longo do tempo, a diferença é que nos dias de hoje o Homem conquistou um certo nível de liberdade e o numero de pessoas que possuem a capacidade de reflectir devido ao conhecimento mais desenvolvido que possuem é em larga escala superior, em relação ao o numero de eruditos de há 2000 anos atrás. Ainda mais que hoje em dia não correm o risco de sentir o fogo a queimar-lhe o corpo, não correm o risco de sentir o seu corpo a ser dilacerado em praça publica, acusado de heresia. Assim sendo, o bradar destas vozes volta de novo a ouvir-se e resta-nos a esperança que desta vez seja mais poderoso que a chamada santa inquisição.

Essa ideia que surge por todos os meios, televisivos, literatura, etc.. fala-nos de algo oculto, de uma verdade oculta. Vêem-se pessoas a perseguir pinturas, formulas hebraicas, símbolos estranhos, tentando compreender a alquimia, magias, sociedades secretas. O que acontece no final é que se duvidas existiam, ainda mais duvidas ficaram.

Mas a única verdade é que nada é oculto. Tudo está diante de todos, mas acontece que a consciência superior do Homem na maior parte dos casos não foi treinada, como foi a consciência sensitiva. Esta consciência superior é como um bebé, que necessita crescer, aprender para que se possa expandir. O que acontece é que o homem não conhece “as operações interiores” de forma a associar elementos abstractos, da mesma forma que conhece as operações exteriores onde por exemplo adiciona arvores de fruto, surgindo à mente a ideia de pomar.

É o conhecimento das operações interiores que a igreja teme. Porque quando a humanidade tomar esta consciência, Os principais dogmas sob os quais a igreja assenta, vão cair.

Da parte não se deve fazer o todo. Um mestre nunca deve ter o receio que o seu discípulo seja superior a ele, porque quem tem a ganhar é a Humanidade porque é do Homem todo o conhecimento e não somente de alguns.

O caminho está em cada um. Arrancai todas as ideias pré concebidas. Botai fogo no vosso campo e caí no fundo do poço de vós mesmos porque nas trevas irá surgir a luz, porque no campo queimado irá surgir uma nova colheita.

Olhai para os símbolos e aceitai-os não com a critica da ideia pré concebida, mas de espírito aberto, aos poucos ireis aprender a somar.

Mem Gimel

4 Comments:

Blogger sa.ra said...

dias com sol, em baixo como em cima, dentro como fora!
assim seja!
beijos

(volto depois, para te ler com atenção)

feliz fim-de-semana!

6:59 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

amo quando roubas tempo ao tempo e assim nos escreves....


beijo.

6:10 da tarde  
Blogger sa.ra said...

fiz print li com as folhas na mão!
gosto de fazer assim, com texto que exigem mais entrega (tempo e atenção)...

sublinho uma frase que tantas vezes repito!
"... a única verdade é que nada é oculto. Tudo está diante de todos"... e acrescento: está tudo DENTRO de nós!

excelente trabalho!Parabéns meu amigo!
dia muito feliz!

12:13 da tarde  
Blogger Logos said...

Obrigado pela vossa presença e pelas vossas palavras.

4:21 da tarde  

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